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Por todos os acontecimentos dos últimos dias que envolvem queimadas desmedidas na Amazônia, troca de insultos entre chefes de governos e ameaças de boicotes econômicos, chegamos a uma triste conclusão: estamos muito distantes de valorizar e preservar a natureza pelo simples fato que dependemos dela para viver, a longo prazo, e para ter qualidade de vida, já a curto prazo, ou mesmo pelo respeito às demais espécies que se encontram absolutamente vulneráveis diante das atitudes humanas.
Há uma evidente banalização no trato à natureza percebida quando governantes encaram com normalidade o desmatamento e a queima sazonal da floresta, que prejudicam não só o meio ambiente como um todo, mas especialmente as pessoas que residem nas localidades afetadas pela seca e pela fumaça. Apontam esse ou aquele culpado e declaram que já tivemos dias piores, como se isso, por si só, justificasse a inércia estatal, o que nos mostra claramente que o foco não é a preservação ambiental, mas sim o desenvolvimento econômico. A natureza não é importante por si mesma, por tudo o que ela representa para a manutenção do planeta, mas sim é uma mercadoria de exploração, de violação e, sobretudo, de troca.
É incrível como a pressão da comunidade internacional, com a simples menção a um possível boicote econômico por parte das nações mais desenvolvidas, faz mudar completamente o discurso interno e compele à adoção de medidas que deveriam ter sido tomadas desde o início, de forma proativa, visando a evitar que o problema tomasse a atual dimensão. E não me parece compreensível ou mesmo aceitável que tais medidas sequer tenham sido cogitadas antes das tais ameaças já que não parecem ser assim de tão difícil implementação.
A mudança no discurso é tão nítida que chega a ser, no mínimo, estranha. Das afirmações sobre propostas de projeto para a legalização de garimpos para o discurso de combate aos garimpos ilegais; do descaso com o aumento no desmatamento e das queimadas ao anúncio de atuação contra qualquer atividade ilegal na região amazônica que esteja contribuindo para a destruição da floresta.
O que podemos concluir dessa "evolução" de pensamento? A resposta é óbvia: a preservação ambiental não é a prioridade! Prioridade é a manutenção da balança comercial. E não queremos afirmar, aqui, que isso não é importante. É, e muito! Mas uma coisa não deve excluir a outra. As metas econômicas não podem simplesmente suprimir as questões ambientais.
As medidas ora adotadas - aumento na fiscalização, combate ao desmatamento, aos garimpos ilegais, aos incêndios criminosos ou acidentais - deveriam fazer parte da agenda estatal independentemente das pressões internacionais, pela simples consciência da importância da natureza como um todo e da preservação da floresta amazônica.
Mas parece que a natureza ainda não conseguiu atingir o patamar de magnitude necessário para que a vejamos por si mesma. Ela ainda é encarada como um sistema disponível e violável, a mercê de governos e de interesses escusos.